Cristologia (Parte 1)

Cristologia (Parte 1)

A doutrina da Cristologia é o ponto central da fé cristã. Se Ele não era quem afirmava ser, então seu sacrifício não foi suficiente para pagar pelos pecados da humanidade.

Existem abordagens teológicas que indicam a sua preexistência, ou seja uma revelação parcial do Cristo pré-encarnado. Significa que Jesus existia antes de nascer como homem, antes mesmo até da criação do tempo, afinal ele existe desde a "eternidade".

A importância da doutrina da preexistência de Cristo:

a) No nascimento - Se Cristo começou a existir em seu nascimento, então, não existe uma Trindade eterna;

b) Na divindade - Se Cristo não era preexistente, então não poderia ser Deus;

c) Nas declarações - Se Cristo não era preexistente, mentiu a respeito de quem ele era e, consequentemente. Se fez isso, possivelmente teria mentido também sobre outros assuntos.

Evidências da preexistência de Cristo

  • Sua origem celestial - Versículos se referem à existência de Cristo antes do nascimento (Jo 3.13,31);
  • Sua obra na criação - Cristo estava envolvido na obra da criação, sendo anterior a ela (Jo 1.3; Cl 1.16; Hb 1.2);
  • Seu relacionamento com Deus - A Bíblia afirma que Jesus tem mesma natureza de Deus (Jo 10.30; Fp 2.6) e que possuiu a mesma glória do Pai antes de o mundo existir (Jo 17.5);
  • Seu relacionamento com João Batista - João Batista reconhece a existência de Jesus antes de ele mesmo ter nascido (Jo 1.15,30).

 

A ETERNIDADE DO CRISTO PRÉ-ENCARNADO

É importante ressaltar que Jesus sempre existiu, eternamente. A eternidade e a preexistência andam sempre unidas. O reconhecimento da  preexistência de Cristo, mas que nega sua eternidade é defendido atualmente pelas Testemunhas de Jeová.

As evidências da eternidade de Cristo:

  • A essência de Cristo - Cristo é da mesma essência de Deus (Hb 1.3);
  • Profecias  - Os profetas anunciaram a eternidade de Cristo (Is 9.6; Mq 5.2; veja Hc 1.12);
  • A declaração de Cristo - Cristo afirmou sua existência eterna  (Jo 8.58);
  • A testemunho de João - O apóstolo João afirmou a eternidade do verbo (Jo 1.1), também explicou em Apocalipse que "O Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo" (Ap 13:8).
  • O testemunho de Pedro - O apóstolo Pedro afirmou que o sangue de Cristo foi conhecido "antes da fundação do mundo" (1 Pe 1:19-20)

A ENCARNAÇÃO DE CRISTO

O SIGNIFICADO

Significa que a segunda pessoa da Trindade, que não possuía a natureza humana, se fez homem (Jo 1.14; 1Jo 4.2; 2 Jo 7).

AS PROFECIAS SOBRE A ENCARNAÇÃO

Sobre o Deus-homem - Isaías anunciou a união da Deidade e da humanidade no Senhor (Is 9.6). Ele fez o mesmo ao anunciar, pelo nome Emanuel (Deus conosco), a presença de Deus entre seu povo na pessoa do menino que nasceria (Is 7.14).

Sobre o nascimento virginal - Em Is 7.14 está predita a encarnação por meio de uma virgem.

OS PROPÓSITOS DA ENCARNAÇÃO:

  • Revelar Deus a nós (Jo 1.18; 14.7-11; Hb 1.3);
  • Prover um sacrifício efetivo pelo pecado (Hb 10.1-10);
  • Cumprir a aliança davídica (Lc 1.31-33 cf. 2 Sm 7.11,16);
  • Dar exemplo de vida (1Pe 2.21; 1 Jo 2.6);
  • Destruir as obras do diabo (1Jo 3.8);
  • Ser um sumo sacerdote misericordioso (Hb 4.14-16). 

A DIVINDADE ABSOLUTA DO CRISTO ENCARNADO

Ele possui atributos divinos como eternidade (Jo 8.58; 17.5), onisciência (Lc 6.8), onipotência (Mt 28.18; Jo 11.38-44) e imutabilidade (Hb 13.8);

Ele faz o que somente Deus poderia fazer, como perdoar pecados (Mc 2.1-12), dar vida (Jo 5.21), ressuscitar os mortos (Jo 11.43) e julgar todas as pessoas (Jo 5.22,27);

Ele recebeu nomes e títulos divinos, como "Filho de Deus" (Jo 10.36), "Senhor" (Mt 22.43-45; Rm 10.9,13), "Deus" (Jo 1.1; 20.28; Hb 1.8) e "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Ap 19.16);

Ele afirmou ser Deus (Jo 10.30).

 

A PERFEITA HUMANIDADE DO CRISTO ENCARNADO

Ele possuía um corpo humano que cresceu e se desenvolveu (Lc 2.52) e chamava a si mesmo de homem (Jo 8.40);

Ele estava sujeito às limitações e sentimentos de um ser humano, como fome (Mt 4.2), sede (Jo 19.28), cansaço (Jo 4.6), compaixão (Mt 9.36) e tristeza (Jo 11.35).

 

A UNIÃO DA DIVINDADE E DA HUMANIDADE NO CRISTO ENCARNADO

A união das duas naturezas de Cristo é chamada de "união hipostática". É um dos conceitos complexo dentro da teologia cristã.

O significado de "natureza" ? É um conjunto de atributos. Jesus mantinha todos os atributos divinos e todos os atributos de um perfeito ser humano;

O caráter da união ? As duas naturezas de Cristo estavam unidas, sendo inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis e inseparáveis e formando uma única pessoa.

A comunhão dos atributos ? Os atributos das duas naturezas estavam presentes em uma só pessoa, sem misturar as naturezas ou dividir a pessoa. Isso exemplifica como Jesus tinha limitações, mesmo sendo onipotente e infinito. Se isso não fosse real ele não poderia morrer.

 

O Autoesvaziamento de Cristo

O conceito que  explica como Cristo podia ser Deus e homem está ligada à palavra derivada de kenosis contida em Fp 2.7.

"Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana" (ARA). 

A teologia reformada discute como Cristo teria se esvaziado de seus atributos como onipotência, onipresença e onisciência sem, contudo, afetar sua divindade. 

Entendendo este conceito 

A passagem central está em Filipenses 2.5-11. O verso  6 apresenta Cristo antes da encarnação existindo em "forma de Deus". A palavra grega morphê significa "natureza", "forma visível", em outras palavras, é a "substância de um ser ou de algo". A mesma palavra aparece em Mc 16.12. Nesse caso, a morphê aponta para uma forma diferente da qual Jesus era comumente reconhecido. 

Entretanto, no caso de Deus que não tem uma forma corpórea, o termo revela que Jesus é da mesma substância ou natureza de Deus. Jesus não existia na pré-encarnação como um ser que não fosse "exatamente Deus".

Esse autoesvaziamento foi algo que Cristo impôs a si mesmo. Envolve tudo que ele fez para morrer na cruz, incluindo assumir a forma de servo. Ao fazer isso, Jesus foi encontrado em figura (skema) humana. 

Isso indica que ele tinha a aparência de um homem e uma vida como a de um homem. Assim, sendo completamente Deus, Jesus passou a ser em tudo como um homem, com exceção apenas do pecado. O contraste é entre os termos morphe e skema.  

O autoesvaziamento de Cristo é o caminho que ele fez saindo da glória celestial até chegar na vergonha da cruz do Calvário. Nesse processo está inclusa a encarnação. Somente assim sua morte pode ser considerada substitutiva.

O processo em nada afeta a divindade de Jesus, nem seus atributos divinos. O autoesvaziamento mostra que o verdadeiro Deus morreu   na condição de um homem, para salvar homens perdidos.

A Impecabilidade de Cristo

As duas naturezas de Cristo também levantam questionamentos quando à sua impecabilidade. O termo significa que Jesus jamais fez qualquer coisa que desagradasse a Deus, que violasse a lei ou que tenha deixado de demonstrar a glória de Deus em sua vida (Jo 8.29).

As Escrituras dão testemunho da vida sem pecado de Jesus:

  • Ele foi chamado santo desde seu nascimento (Lc 1.35). 
  • Jesus desafiou seus inimigos a provarem que ele tinha pecado (Jo 8.46).
  • Nada que Jesus falou pode acusar-lhe justamente (Mt 22.15). 
  • Ele guardava os mandamentos (Jo 15.10). 
  • Nos momentos em que precederam a crucificação foi declarado inocente onze vezes (Mt 27.4,19,24,54; Lc 23.14,15,22,41; Jo 18.38; 19.4,6). 
  • Paulo atestou a impecabilidade de Cristo (2Co 5.21), assim como Pedro (1Pe 1.19; 2.22); João (1Jo 3.5), o autor de Hebreus (Hb 4.15; 7.26,27).

 

O DEBATE SOBRE A IMPECABILIDADE 

A questão debatida na teologia é se Cristo não era capaz de pecar ou se era e decidiu não pecar. O principal argumento é que se Cristo foi tentado é porque poderia pecar, caso contrário a tentação não seria real. Isso leva a necessidade de entendimento da natureza das tentações de Cristo.

A Bíblia afirma que Cristo foi tentado como um ser humano (Hb 4.15), já que como Deus isso não poderia acontecer (Tg 1.13).  As tentações de fato ocorreram e foram apropriadas ao Deus-homem, visto que um homem qualquer não é tentado a transformar uma pedra em pão. Mesmo assim, Jesus foi tentado à semelhança dos homens. 

Uma melhor compreensão da natureza das tentações de Cristo ocorre na análise do texto de Mt 4.1-11, onde é possível perceber que ele foi tentado em todas as áreas comuns ao ser humano.